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 > Vida Espiritual

A trajetória dominicana da vida espiritual

Schillebeeckx, teólogo dominicano, conta que ele havia se sentido fascinado pela figura de Domingos de Gusmão, devido ao modo como o santo combinou de maneira harmoniosa, o universal e a preocupação pelas circunstâncias concretas nas quais a pregação deveria ter lugar. Era a harmonia do humano e do religioso, deixar Deus ser Deus e ao mesmo tempo conceder a primazia à graça.

 

No século XIII era necessária uma renovação da vida sacerdotal e da vida monástica. Em 1215 o IV Concílio do Latrão abordou essa questão, de modo separado. Domingos teve em conta a renovação da vida sacerdotal que o Concílio promoveu, e a propôs a seus seguidores já na diocese de Toulouse. Como aponta e sublinha Schillebeeckx, Domingos descobriu um sinal dos tempos nos movimentos cátaros e albigenses que atraíam muita gente; precisamente pela união que realizavam entre pobreza e pregação. Embora a isso juntassem um tom anti-eclesial e uma visão dura e equivocada da condição humana.

Havia algo a aprender dos hereges: Os hereges, alheios ao estilo feudal institucionalizado na Igreja, mostravam um espírito presente no Evangelho que passava em grande parte desapercebido da Igreja institucional, como a presença de Jesus no pobre, sua própria humanidade frágil, exposta ao mando de outrem. Marginalizados na Igreja, e inclusive enfrentados nos espaços mais institucionais, já haviam aparecido movimentos nessa direção. Era preciso ser sensível ao que esses movimentos promoviam a partir dessa atitude anti-eclesial. São Domingos assim o fez fixando-se nos seguidores imediatos do Mestre, os apóstolos: daí virá a proposta aos que reuniu em torno de si: ser varões apostólicos. Isso deveria ser feito a partir do apreço pela condição humana em sua integridade, que enamorou a Deus até que enviou o Filho para salvá-la, e rechaçar o dualismo cátaro que desprezava o corporal e promovia uma espiritualidade quase angélica, um espiritualismo ascético e irreal, com uma consideração negativa do ser humano; que se fundava em um evangelismo literal, não afastado de certo fanatismo puritano. Era um desvio na raiz da mensagem de Jesus, na maneira de pregar e de atuar de quem falava de Deus e ao mesmo tempo curava corpos e mentes enfermas; de quem promovia o amor e o compromisso com as misérias da natureza humana: nudez, fome, sede, enfermidade... Para curá-las.

 

Domingos conhecia bem a vida digna do sacerdote como cônego em Osma, mas talvez lhe impactava mais o estilo de vida dos hereges. A solução tinha que ser viver como os hereges e ensinar como a Igreja. Domingos percebeu que devia pregar não tanto como exercício profissional, para o que se deveria ter autorização oficial de bispos e do Papa, senão antes com um estilo de vida de seguimento de Jesus, em fidelidade radical ao evangelho. Desse modo, unia os problemas que o IV Concílio do Latrão havia considerado como independentes: a vida monástica e a vida sacerdotal. Funda um estilo de vida que rompe estruturas em parte feudais dos mosteiros clássicos, e também de cabidos catedralícios, estruturas tão firmada, por outra parte, numa economia estável, e faz de seus frades itinerantes – mendicantes – da palavra, como faziam os movimentos que estavam surgindo; mas dentro da Igreja, não contra a Igreja. O Pe. Felicíssimo, em seu livro “Ve y predica” desenvolve isso com precisão.

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