Durante a ordenação de nosso irmão frei Átila, no último dia 2, veio-me algo a mente. Eu me perguntava como estava meu estado de espírito neste final de ano. Não posso esconder de mim mesmo, nem de meus irmãos e irmãs, que não faltaram desafios em 2023. E eles foram de todo tipo. Mas, o sentimento que me habitou, naquele momento, e que me habita ao escrever este texto, é de gratidão.
Tenho impressão que me ajudou a encontrar este espírito de ação de graças uma pequena canção que ouvi, há poucos dias. Era uma simples e profunda oração pela paz, em forma de música, preparada e interpretada pelos jovens da Opera per la gioventù Giorgio La Pira, uma organização social italiana, que leva o nome do venerável leigo dominicano, chamado de “o santo prefeito de Florença”. Na canção-oração, orava-se à Mãe de Deus pela paz e se agradecia pelos tesouros que nos traz a fé cristã: santidade e oração, catedrais e mosteiros, beleza, arte, liturgia, fidelidade ao Cristo Ressuscitado e a Maria assunta.
A correria do cotidiano e a tristeza que às vezes nos vem, podem nos levar a esquecer os tantos e tão variados tesouros que a nossa fé e nossa vocação nos trazem.
Penso que minha gratidão ao Senhor tenha dois níveis, que estão muito unidos: um pessoal e outro institucional. Pessoalmente, mas como prior da Província, pude testemunhar neste ano tanta generosidade, ao encontrar os irmãos e irmãs: o amor sincero de tantos irmãos(ãs) pelos mais pobres, sem voz, esquecidos, preferidos de Deus; o zelo esmerado daqueles que se dedicam ao ministério paroquial; o cuidado daqueles que aceitam lidar com os desafios da vida acadêmica; a seriedade e paciência dos formadores; a generosidade dos formandos, muitas vezes tão longe de suas famílias e lugares de origem, vivendo com alegria seu discernimento e sua formação inicial; a preocupação de priores, superiores, ecônomos, leitores sempre atentos ao cuidado para com o bem comum. Estes são apenas alguns e poucos exemplos...
Institucionalmente, pudemos ver neste ano tantas profissões (sete primeiras profissões e quatro solenes); tantos jovens a se interessar pela nossa vida, engajando-se no discernimento vocacional; a ordenação de um irmão; inúmeros novos engajamentos de leigos e também de ministros ordenados em nossas fraternidades, nos mais diversos lugares do Brasil. Quando nos preparamos para celebrar a fecundidade do seio da Virgem, damos graças ao Senhor pela fecundidade em nossa família.
Tudo isso é sinal da fecundidade da nossa vocação dominicana. A vida que sonhou o Pai Domingos é para nós um tesouro, a ser vivido com coerência, humildade e generosidade. Somente assim, este belo tesouro poderá servir não somente a nós, mas a todos os homens e mulheres que conosco se encontrarem. Afinal, como recordei na homilia da missa de primeira profissão de nossos noviços, em novembro deste ano, nossa vocação dominicana só é completa quando o que contemplamos e planejamos, pessoalmente e juntos, nos conventos, chega aos ouvidos e corações do nosso próximo.
Abençoado Natal e feliz início de ano a todos e todas.
Fr André Luis Tavares, OP
Prior Provincial
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